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Engenharia Social

CPI das bets, tigrinho fake e mais; a engenharia social na mídia

Com o uso de engenharia social, aplicativos falsos e influência comprada, golpistas estão ludibriando internautas brasileiros.

Ramon de Souza

Ramon de Souza

(ISC)² Certified in Cybersecurity | Journalist | Author | Speaker

 min de leitura

 

O crescimento acelerado das apostas online no Brasil, impulsionado por campanhas de marketing agressivas, celebridades digitais e estratégias de engenharia social desencadeou uma série de investigações que culminaram na formação da CPI das Bets.

Sob esse guarda‑chuva investigativo, parlamentares buscam compreender como plataformas aparentemente legítimas — as tão faladas casas de apostas — tornaram-se vetores de manipulação e engenharia social para fraudar internautas.

Ao mesmo tempo, surgem golpes ainda mais refinados, como o jogo do tigrinho e o tigrinho fake, que se valem de perfis falsos e app falso para ludibriar vítimas e desviar seus recursos.

Mais um golpe de engenharia social?

A engenharia social é o fio condutor que conecta todos esses esquemas: eles exploram gatilhos psicológicos, emoções e relações de confiança para atrair e enganar usuários. Funciona como uma ponte entre a promessa de ganhos fáceis e o golpe em si.

Primeiro, cria-se uma narrativa convincente — vídeos de supostos vencedores, testemunhos de influenciadores e interfaces que imitam casas de apostas confiáveis. Depois, é acionada a urgência: “a oferta vai expirar”, “vagas limitadas”. Essa combinação gera ansiedade e faz com que a vítima tome decisões impulsivas, sem checar detalhes ou termos de serviço.

Desde que entrou em pauta no Senado Federal, a CPI das Bets ganhou as manchetes não apenas por convocar executivos de grandes casas de apostas, mas também por trazer à tona depoimentos eletrizantes de influenciadores digitais.

Um dos momentos mais comentados foi o depoimento da Virginia Fonseca, que admitiu ter promovido ganhos adulterados para convencer seus fãs a aderirem a uma plataforma de apostas. Esse episódio expôs como a falta de transparência nas parcerias pode transformar anúncios em verdadeiras golpes de engenharia social.

Como funciona?

Os golpes de apostas utilizam técnicas de engenharia social de forma sutil e estratégica. Bônus de boas vindas, recompensas por indicação e promessas de lucros expressivos criam o vínculo inicial. Em seguida, mensagens personalizadas (spear phishing) em e-mails, SMS ou redes sociais reforçam a credibilidade, simulando alertas de uma casa de aposta confiável.

Ao clicar, o usuário é levado a um app falso ou a uma página clonada, onde fornece dados pessoais e bancários. Quando tenta resgatar os supostos ganhos, descobre que caiu em um esquema que concentra depósitos em contas de terceiros.

Paralelamente, proliferam grupos de mensagens e canais em que o jogo do tigrinho é vendido como a nova sensação das apostas. A mecânica, inspirada em slots ou roletas com um mascote felino, promete bônus a cada compartilhamento.

As primeiras rodadas pagam centavos ou pequenas quantias, reforçando a crença no sistema e atraindo mais vítimas. Quando o fluxo diminui, golpistas envolvem um tigrinho fake, perfis de falsos vencedores, e desaparecem com todo o saldo.

Os perfis de tigrinho fake são construídos cuidadosamente: fotos genéricas de bancos de imagem, postagens automatizadas que simulam extratos de ganhos e depoimentos forjados.
Essa forma de engenharia social explora o medo de ficar de fora e a prova social: “se ele ganhou, eu também posso ganhar”. Esse gatilho psicológico é especialmente poderoso entre o público jovem, menos atento a indícios de fraude.

O abuso das casas “legalizadas”

Enquanto isso, a CPI das Bets ouve relatos de usuários enganados por casas de apostas que, embora licitadas em algum órgão, impõem condições de saque quase impossíveis de cumprir.
Cláusulas exigem apostas volumosas para liberar bônus, e plataformas se reservam o direito de cancelar retiradas sem justificativa. Essas práticas, revestidas de políticas internas, configuram estelionato digital, pois se valem de lacunas regulatórias para capturar recursos indiscriminadamente.

Em resposta a esses desafios, a CPI das Bets propõe medidas como proibir publicidade de apostas sem mecanismos de verificação de idade e perfil de risco; exigir selos de conformidade emitidos por órgãos reguladores; e criar um canal oficial de denúncia para vítimas de app falso e tigrinho fake. Também discute responsabilizar influenciadores que façam “marketing de afiliação” sem deixar claro o patrocínio, sob pena de multas e suspensão de contratos.

Esses esquemas demonstram como a engenharia social pode ser o elemento-chave para o sucesso de fraudes complexas. Ao explorar gatilhos emocionais — urgência, prova social e reciprocidade —, criminosos digitais transformam a internet num terreno fértil para golpes. A normalização do vício em apostas, promovida como entretenimento, raramente menciona riscos de endividamento ou a alta probabilidade de perdas.

Como se proteger?

Para o internauta, a recomendação é clara: desconfie de ofertas que pareçam boas demais para ser verdade, nunca clique em links desconhecidos e evite baixar aplicativos fora de lojas oficiais. Mesmo nas lojas oficiais, verifique o número de downloads, leia avaliações e cheque se há menções de app falso ou aplicativo falso. Use ferramentas antiphishing para bloquear domínios suspeitos e gerenciadores de senha para proteger suas credenciais.

A CPI das Bets, exemplificada pelo conturbado depoimento na CPI de Virginia Fonseca, reforça a urgência de uma regulação robusta e de campanhas de educação digital que alertem sobre os perigos da engenharia social aplicada a apostas.

Somente com leis mais rígidas, fiscalização eficaz e conscientização coletiva conseguiremos tornar a internet um ambiente mais seguro, onde o entretenimento não se confunda com armadilhas e as casas de apostas ajam de forma ética e transparente.

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