Blog da Eskive

DeepSeek: analisando as ameaças à privacidade da inteligência artificial

Escrito por Ramon de Souza | 30/01/25 12:00
30/01/2025 às 09h00 | 7 min de leitura

 

Se você acompanha os noticiários em busca de informações sobre novidades no campo da inteligência artificial, certamente se deparou, nos últimos tempos, com a polêmica da DeepSeek. A IA de origem chinesa surgiu de forma repentina no mercado e impressionou a todos com seu modelo generativo de texto e imagem R1, mais eficiente até mesmo do que aqueles oferecidos pela OpenAI, criadora do ChatGPT e do Dall-E.

Mas, como sempre, surgem preocupações a respeito da proteção de dados e da privacidade de quem utiliza os serviços da companhia asiática. Afinal, será que vale a pena trocar as ferramentas de inteligência artificial norte-americanas e europeias pela novata chinesa? Quais riscos estariam envolvidos no uso dessa plataforma estreante? Decidimos analisar alguns pontos cruciais para chegar em algumas conclusões.

Afinal, o que é a DeepSeek?

Antes de mais nada, vale a pena ressaltar algumas curiosidades sobre a BlueSeek — que, oficialmente, responde pelos nomes de Hangzhou DeepSeek Artificial Intelligence Co., Ltd. e Beijing DeepSeek Artificial Intelligence Co., Ltd. O que mais chamou a atenção do mercado em relação aos modelos computacionais da empresa é que, de acordo com a própria, foram usados apenas 2 mil chips H800 da NVIDIA para treinar a IA.

Trata-se de um número bastante reduzido em comparação com outros modelos do gênero, o que pode significar que os chineses encontraram uma forma mais barata e acessível de construir modelos de machine learning. Tal informação é tão chocante que as ações da NVIDIA caíram em 17% após tal anúncio, fazendo com que a fornecedora de hardware perdesse US$ 600 bilhões de seu valor de mercado.

Além disso, diferente da OpenAI que cobra pelos níveis mais altos de suas inteligências artificiais, a DeepSeek oferece sua plataforma de forma totalmente gratuita nos formatos web app e como aplicativos para dispositivos móveis — basta criar uma conta e começar a usar. A companhia parece lucrar somente com o licenciamento de suas APIs para quem deseja embutir seus modelos em projetos particulares.

Riscos à privacidade

Plataformas e aplicações oriundas da China são, naturalmente, encaradas com certo receio quando o assunto é privacidade digital. As empresas do país asiático são conhecidas por rastrear e coletar mais dados pessoais dos usuários do que o necessário, o que constantemente cria situações delicadas — como o banimento do TikTok e outros apps da ByteDance em território estadunidense, por exemplo.

Analisando a Política de Privacidade da DeepSeek, foi possível constatar que a companhia recolhe alguns metadados a mais do que outras plataformas do gênero, incluindo “padrões ou ritmos de digitação”, logs de performance, endereço IP e detalhes do dispositivo utilizado, como modelo, sistema operacional e idioma. Também são armazenados textos, áudios, arquivos e quaisquer outros conteúdos fornecidos pelo usuário.

Ainda de acordo com a própria DeepSeek, todos esses dados identificáveis são guardados em servidores chineses “pelo tempo que for necessário” para aprimorar o serviço e também para obrigações legais. As informações podem ser compartilhadas com “parceiros de negócios”, com o “grupo corporativo” e com terceiros em caso de transações corporativas ou requisições legais.

E as regulamentações?

A DeepSeek afirma estar em acordo com as regulamentações globais de proteção de dados e reafirma que usuários de “determinados países” podem possuir direitos sob seus dados na figura de titular, incluindo a possibilidade de limitar ao máximo a quantia de informações processadas sobre si e até mesmo requisitar uma cópia completa de tudo o que a companhia possui armazenado a seu respeito.

Tais direitos estão previstos tanto na General Data Protection Regulation (GDPR) quanto na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Sendo assim, na teoria, basta entrar em contato com o departamento de compliance da DeepSeek para exigir seus direitos de titular — a empresa deverá respeitar os pedidos realizados de acordo com as normas vigentes em nosso país.

É sempre bom lembrar…

Independente das políticas de uso e de privacidade das plataformas de inteligência artificial disponíveis no mercado, é sempre interessante ter cautela e bom senso ao utilizá-las para processar certos tipos de informações. Devemos evitar, por exemplo, fornecer dados pessoais e sensíveis durante as requisições e conversas de texto, já que eles podem ser usados para treinar o modelo e até serem disponibilizados para outros usuários.

O mesmo ocorre com informações de natureza corporativa. O uso de IA para automatizar tarefas e ajudar no cotidiano profissional já é algo normal; porém, é sensato pensar duas vezes antes de registrar “prompts” que contenham segredos corporativos e dados privilegiados (como trechos de códigos de programação proprietários), já que é difícil saber como esse conteúdo será posteriormente reutilizado.

No fim das contas, embora a BlueSeek tenha alguns pontos preocupantes em sua Política de Privacidade, seria exagero dizer que ela representa um perigo maior à privacidade do que outras plataformas já consolidadas no mercado. Porém, como qualquer IA generativa, ela precisa ser usada com a mesma cautela de sempre. É crucial que seus usuários estejam cientes das boas práticas de utilização de tais ferramentas.

Falando em educação do usuário, a Eskive possui mais de 14 anos de experiência com conscientização e redução do risco humano. Entre em contato com nossos especialistas para entender como podemos te ajudar a criar uma cultura corporativa que utiliza a IA de forma segura e responsável.